segunda-feira, 6 de julho de 2015

Método Ponseti e Cirurgia de Codevilla


Ortopedia e Traumatologia

O tratamento atual do pé torto congênito   (PTC) tem sido modificado com base em novos conceitos estabelecidos por Ingnácio Ponseti, médico ortopedista de origem espanhola, professor da universidade de Iowa nos Estados Unidos da America, (falecido recentemente). Antes do método de Ponseti, seguíamos os conceitos de Codevilla, ortopedista italiano que defendia o tratamento cirúrgico do PTC através de cirurgia ampla, que ainda hoje realizamos em pés inveterados que não foram tratados convenientemente em tempo adequado. O tratamento cirúrgico de Codevilla é indicado em crianças   com idade de aproximadamente um a dois anos e requer amplas cirurgias, com liberações de cápsulas, ligamentos e alongamento de tendões. Aparentemente se obtinha uma boa correção anatômica da deformidade, no entanto, alguns pés não obtinham bons resultados funcionais, tonavam-se dolorosos e atrofiados na adolescência e na idade adulta.

Pé Torto Congênito possui, no método Ponseti, tratamentos mais eficientes
Atualmente tratamos os pés tortos pelo método de Ponseti , iniciando de preferência, com uma a duas semanas após o nascimento e obtemos resultados excelentes quando bem conduzidos. É de grande importância à participação da família, do médico e dos paramédicos com experiência e compromissados, para que se tenha um bom resultado. Inicia-se o tratamento pela manipulação dos pés buscando a correção anatômica da deformidade seguida de troca de gesso semanal. Com a troca de seis a oito gessos seguidos de uma tenotomia percutânea do tendão de Aquiles, realizada em ambulatório, conseguimos a correção da deformidade. Obtida a correção, os pés são mantidos em um aparelho gessado por três semanas e a seguir colocados em uma órtese ortopédica durante a noite pelo período de mais ou menos dois anos. Com este tratamento obtemos pés fortes, indolores, sem atrofia muscular e com capacidade de exercer qualquer atividade física própria da idade. Em alguns pés pode ser necessária uma pequena cirurgia complementar, constando de transposição do tendão tibial anterior para o dorso do pé, o que permite a correção da adução residual que acontece em poucos pés.
A deformidade pé torto é uma das mais frequentes no mundo, principalmente em países subdesenvolvidos nas populações de baixa renda. Mesmo com os estudos atuais de Ponseti, mostrando que o defeito encontra-se nas proteínas que compõem o tecido colágeno da estrutura osteoligamentar do pé na fase embrionária, não se tem determinado uma origem genética, no entanto, sabe-se que o PTC está presente fortemente em grupos familiares e quanto mais próximos os pais e mães são parentes de portadores de pés tortos, maior a possibilidade de nascer filhos com esta patologia.

A deformidade pé torto é muito danosa. Quando não tratada convenientemente, determina em seus portadores, uma perda sócio-cultural e econômica e muitas vezes descriminação dentro do seu grupo social. Nos dias de hoje, ainda contamos com a presença de um componente religioso muito forte. Já ouvi de pais que tem filho portador de pé torto, quando abordado por nós sobre o tratamento nos respondeu: ?Deus quis assim e assim vai se criar?. Por outro lado, existem portadores de pés tortos que enfrentam o tratamento com muita coragem e resignação. Lembro-me de uma paciente que já tinha trinta e dois anos quando foi submetida a tratamento cirúrgico, por nós, de pé torto bilateral. É com muita alegria e satisfação que esta senhora se apresenta durante as consultas de retorno, usando seus tênis, trabalhando e não sofrendo descriminação.

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